Pratyahara
Pratyahara é o 5º estágio do Ashtanga Yoga de Patanjali , ao qual poderíamos nos referir como retirar a atenção dos sentidos do ambiente externo e das distrações do mundo físico e ilusório (maya) e transferir essa atenção ao que realmente importa, o Eu Interno e Absoluto. Em nosso Curso de Instrutores teremos ampla explanação sobre o tema, porém deixo aqui algumas pinceladas para que mesmo os alunos de nossas práticas básicas de asana tenham entendimento sobre o tema. Note que isto é apenas um resumo de algo complexo e de extrema importância.
Pratyahara é uma ponte. Deixa o campo dos aspectos externos (bahiranga) do Yoga e conduz o praticante às práticas internas (antaranga). É a partir da prática de pratyahara que o buscador adentra ao mundo do Raja Yoga, ao conseguir sistematicamente controlar seus sentidos em relação ao mundo exterior.
Os angas anteriores – yama, nyama, asana e pranayama –, seguindo o estabelecido por Patanjali nos Yoga Sutras, tem como característica o treinamento do corpo físico e de suas emoções, assim como equilibrar energeticamente todo o conjunto sob a batuta de sua mente. A partir de pratyahara, passamos a observar e criar condições para nos aprofundarmos em dhyana (concentração), dharana (meditação) e samadhi (estado alterado de consciência/meditação absoluta).
Usando a figura do espelho, pratyahara é o reflexo: se você o orienta para fora, seus sentidos captarão somente reflexos de realidades ilusórias. Fazendo foco para o seu interior, reflete as realidades maiores e verdadeiras, ou seja, o real auto-conhecimento, a pureza dos sentimentos, a aquietação da mente, o Eu Maior.
A prática básica de pratyahara se dá pelo controle dos sentidos, com foco nos órgãos de percepção (indryas), através tanto de ações mecânicas (fechar os olhos para cessar estímulos visuais) quanto por atitudes, como o uso de mudras, prática de determinados asanas restritivos (padmasana para “travar as pernas”, por exemplo). O princípio de pratyahara então está no fato de que temos a capacidade de limitar ou influenciar nosso “input sensorial”. A elevação espiritual – ou real percepção de si – passa necessariamente sobre o auto-controle e auto-conhecimento.
Insights maravilhosos sobre o papel dos sentidos na vida espiritual são dados na BHAGAVAD GITA:
“O Iluminado aprendeu a retirar habilmente os sentidos das atrações do mundo, assim como a tartaruga puxa naturalmente seus membros para se proteger.”
— Capítulo 2, V. 58
“… Mesmo aquelas mentes que conhecem o caminho podem ser arrastadas para longe por sentidos indisciplinados.”
— Capítulo 2, V. 60
“As delícias que nascem em contato [dos sentidos] são, na verdade, os ventres da dor; eles têm, oh filho de Kunti, um começo e um fim. Nenhum homem sábio se alegra neles.”
— Capítulo 5, V. 22
Muitos confundem pratyahara com abstenção total de todos os estímulos incluindo aí os sexuais, porém mais importante que simplesmente buscar o fim de algo é buscar saber como controlar e usar a seu favor. Tome como exemplo um rio que inunda determinada região a cada chuva. Não se extingue o rio, mas cria-se contenções, represas, que no final acaba por beneficiar a população que antes sofria e que agora terá um suprimento do valioso líquido (energia!) para uso em épocas de estio.
Como escrevi acima, este texto é uma brevíssima pincelada. Durante nossos cursos e workshops voltaremos ao tema de uma maneira mais profunda. Espero que mesmo dessa forma reduzida, algo de valor tenha sido repassado 🙂
Hari Om