Yoga existe a milênios, e daí?

Este texto tem tudo para ser pessimista, mas não é. Explico: o Universo atingido por boas práticas, sejam elas a quais filosofias pertençam, é mínimo dentro de nossa visão ocidentalista. Disparidades existem em qualquer parte do mundo, mas nesta nossa fatia da laranja, parece que as consequências sócias da desigualdade são muito mais profundas — e expostas ao mesmo tempo —, de uma maneira tão comum ao nosso cotidiano que acaba sendo aceitável o Sofrimento (em maiúscula, comunitário). Guerras.

É triste que a humanidade ainda precise de yoga. Milênios de involução social fazem a prática ainda necessária, sugerindo talvez em retrocesso social nunca antes tão perceptível. O desenvolvimento do capital humano tornou-se inversamente proporcional ao acúmulo de riquezas em pouquíssimas mãos, ou seja, a raiz de nossos problemas vem, provavelmente do egocentrismo, do apego e da vaidade.

A mentalidade do humano tem base consumista, não sempre para autossustento, mas cada vez mais também para justificar sua posição social, profissão ou poder. Isso tem um preço altíssimo se avaliado pelo viés da sustentabilidade. O inchaço das grandes cidades, antigamente para fins de proteção e agora com apelo corporativo (mão de obra barata) facilita a manutenção do poder e amplia horizontes para usufruir a Terra como quintal próprio e não algo que possa fornecer possibilidades de igualdade de sobrevivência.

Mas e o Yoga com isso?

Iniciando por Patanjali e seus Yoga Sutras, yamas e nyamas são condutores de uma sociedade saudável:

Yamas:

Ahimsa (Não-violência): Princípio da não-violência, promovendo a compaixão e a ausência de prejuízo a si mesmo e aos outros.

Satya (Veracidade): Compromisso com a verdade e honestidade em pensamentos, palavras e ações.

Asteya (Não-roubar): Abstenção de roubo, tanto material quanto não material, incluindo o respeito à propriedade alheia e a não apropriação indevida.

Brahmacharya (Controle dos sentidos): Moderação e controle dos impulsos sensoriais, muitas vezes associado à prática da castidade.

Aparigraha (Desapego): Desapego de posses materiais e a não busca incessante por mais, promovendo a simplicidade.

Nyamas:

Saucha (Pureza): Purificação do corpo e mente, incluindo hábitos de higiene e pensamentos puros.

Santosha (Contentamento): Cultivo da gratidão e satisfação com o que se tem, aceitando as circunstâncias presentes.

Tapas (Austeridade): Prática de autodisciplina e esforço, muitas vezes através de práticas físicas, mentais ou espirituais.

Swadhyaya (Autoconhecimento): Investigações introspectivas e estudo pessoal para compreender a si mesmo e sua natureza.

Ishvara Pranidhana (Devoção a Deus): Rendição à vontade divina, seja através de uma entidade superior ou do reconhecimento de uma força cósmica.

Fora esses aspectos, dentro do próprio Ashtanga Yoga onde estão embutidos os preceitos acima, pensem: Asanas (posturas) são extremamente benéficos para o corpo, para a mente e para aspectos psicológicos gerais. Pranayama te ensina a respirar calmamente, tanto manipulando seu prana (energia), quanto oferecendo facilidades físicas, como a troca gasosa e capacidade pulmonar. Pratyahara já te ajuda muito no autocontrole, observando melhor suas reações quanto às “provocações” do ambiente onde você está inserido.

Yoga é barato e necessário. Um sistema filosófico repleto de ensinamentos simples que podem ser entendidos por literalmente qualquer pessoa. Se até hoje não vivemos em um mundo yogi, não é por falta de eficácia do método mas sim pelo alcance limitado de uma prática não-missionária, onde você deve desejar estar, sem imposições.

Mesmo não existindo a cooptação, você que é praticante pode fazer algo que sempre citamos em nossos cursos: seja a referência. Um bom exemplo vale muito mais que 10 leis ou 100 sermões. O praticante de Yoga deve sim ser exemplar dentro de suas possibilidades, não caindo na tendência das verdades contextuais e sim amparado por um processo sólido e comprovado.

Infelizmente precisamos cada vez mais de Yoga. Felizmente a temos.